Alguns dias antes do dia 23 de dezembro de 1972, dia em que completei 23 anos, formei-me em Técnico de Contabilidade e casei, mais precisamente no dia 17 de Dezembro, um Domingo, alguns poucos amigos mais chegados e não menos estimados, liderados pelo meu querido velho “Pídio Véi” e Aderbal Michels resolveram fazer o meu “bota fora”. Foi bom. Foi no Balneário “Piraputangas”. Bebemos e comemos, mais bebemos. À noitinha, já escurecendo voltamos. Papai no jeep dele, levava os amigos às suas casas, eu, no jeep de Aderbal fui o ultimo a ser ‘entregue’ na Rua da Manga, a mesma do Aderbal, ele no começo contando-se de quem vem da Loja Maçônica “União e Força” para a Praia do Daveron, eu no final. Vínhamos pela Cel. Faria, não me lembro se já havia essa desgraça de ‘blocrete’, ô nomizinho horripilante, ninguém merece! e ainda tem os que acham que essa verdadeira desgraça é histórico, ‘ái meu joêio’, só se for estória de coisa ruim… O que sei que é histórico são as ladeiras das antigas cidades feitas com paralelepípedos, quando ainda não havia nem se conhecia o asfalto. Não é nosso caso. Ali em frente ao “Hispano” Hotel havia um culto protestante ao ar livre bem concentrado, muitas pessoas voltadas para a mureta do cais com suas famosas e bonitas colunetas quando o Aderbal imprime rigorosa frenagem ao baita fazendo aquele ruído característico. Atônitos param e olham para o jeep, momento em que o Aderbal bota a cabeça prá fora e grita:
-EU SOU DA OPOSIÇÃO!!!
“Belos tempos, belos dias” e que dias, era 1972, a Revolução, digo o golpe em pleno vigor, o AI 5 “comendo em alta” como diria o Adilson… Nós passamos, eles continuaram o culto, talvez curto. Saudades… É por isso que eu não queria ficar velho, muito menos nostálgico, mas a vida é assim mesmo: nos leva prá lá, nos traz prá cá… Resolvi não oferecer resistência, prá onde me levar, feito o vento, eu vou… Essas lembranças me atacaram no mesmo instante em tive o meu sacrossanto direito de ir e vir obstado por um grupo numeroso de “sem terra” em frente aquela escola da Talhamares, com certeza acobertados por religiosos comunistas , ‘sem mais o quê, mas com certeza absoluta SEM respeito às leis, à dignidade humana, à urbanidade, à ética e aos bons costumes. Verdadeiros vândalos anarquistas, não no sentido político, mas tão somente no sentido moral. Preguiçosos e inúteis industriários do desassossego rural e agora também urbano, que pensam e agem como se o mundo gravitasse ao redor dos seus intestinos. Fecharam a rua e até a escola, impedindo que os alunos recebessem o que eles não podem nem tem o que dar: EDUCAÇÃO. Tudo sob o olhar e as ventas das autoridades que, complacentes e condescendentes, não vêem, não sabem, nem nada. Amiúde isso se repete no fechamento de rodovias, com homens fortes e ociosos brandindo verdadeiras armas, como facão, machado, foice etc… que dizem ser instrumentos de trabalho, mas na cidade? na rodovia? Ora, são armas !!! Não são agricultores. São mal-feitores.
(*) Emilson Pires de Souza
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Cáceres
06/01/2014. Um abração aos compadres “Pídio Véi”




























10 respostas
Centenas de trabalhadores rurais “sem-terra” foram (e são) mortos na nossa região. Assassinaram o padre Nazareno em Jauru por conta de conflito fundiário. Recomendaria q o caro escritor, aparentemente afeito a história de Cáceres, (re)lesse os escritos de Dom Máximo Biennés, cujo nome homenageia a escola mencionada, mas é provável q o classifique de “religioso comunista”.
Cáceres dominada desde sua fundação pelas pretensas famílias tradicionais, continua a carregar a chaga do preconceito, do autoritarismo e da autocracia.
Concordo que é uma visão muito preconceituosa, pessoas que são trabalhadores e lutam pela sobrevivência. Não podem ser chamados de mal- feitores.
O texto começou relativamente bem. Descrevendo ruas e logradouros de Cáceres. Porém, resolveu utilizar um episódio de 1972 para generalizar opiniões sobre a questão fundiária no Brasil e seus conflitos. Respeito as opinões: é um princípio democrático elementar. O que não podemos é tratar de forma homogênea o que é heterogêneo. Mulheres e homens bem intecionados temos em todas as instituições e movimentos políticos. Pessoas não corretas também estão presentes em todos os lugares. É necessário avaliar caso a caso. É isso.
Pensamento dominante, e a pessoa acha que pensa por sua própria cabeça.
Incapacidade de questionar, de olhar a história da formação fundiária do nosso país, qdo os escravos foram “libertados” de mãos vazias, e proibidos legalmente de adquirir propriedades.
Concordo com você Emilson!
Parabéns Emilson, concordo plenamente com você!
Velhos tempos, velhos dias, só restou saudades, eu vivi bem esse tempo.
Não gosto desses bardeneiros que destrói é invadem as propriedades alheia.
Muito triste essa visão preconceituosa sobre os trabalhadores da agricultura familiar que só através da luta conseguem conquistar seu direito à terra.
Exatamente Sérgio, lamentável que até pessoas da classe trabalhadora, sem pertencimento à classe dominante defendam esse ponto de vista. Falta de consciência de classe, é o impõe aos oprimidos tanto sofrimento e ausência de dignidade.