Elson, meu irmão, tinha ido a Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, e eu e o Jarbas, (meu irmão mais novo), ficamos encarregados de ir buscá-lo em San Mathias, na fronteira, quando do seu regresso. E fomos. Fomos de carro na certeza de degustarmos uma Paceña bem gelada lá em San Mathias.
No Posto do Exercito Brasileiro da Corixa, na fronteira, fui instado por Amauri de Sá, funcionário da Vigilância Sanitária, velho conhecido de Cáceres, colega de Ginásio, a mostrar a minha Carteira de Vacinação para comprovar que eu tinha sido vacinado contra a Febre Amarela, exigência do governo federal brasileiro, para seus cidadãos adentrarem à Bolívia. O nosso Presidente era José Sarney emplacando sua política de tabelamento de preços e salários com a pretensa valorização do homem brasileiro… Valendo-me dessa pretensa valorização, eu disse ao Amauri:
– Amauri, eu sou vacinado contra a Febre Amarela, mas deixei a Carteira de Vacinação em casa, quem é que anda com esse negócio na carteira?
Amauri respostou de pronto:
– Se você não tem como comprovar que foi vacinado, só passa prá Bolívia se eu lhe vacinar…
Perorei:
– Mas rapaz, o meu Presidente (Sarney) disse que a palavra de um brasileiro basta! Então a minha palavra basta, ainda mais que essa vacina é para o meu próprio bem, então eu jamais faria qualquer coisa contra mim mesmo, você não acha?
– Eu não acho nada. Ou eu vacino você ou você não passa!
Aborrecido, descontente, insatisfeito e puto da vida por ele não aceitar a minha argumentação, com a cara azeda e contrafeita, disse-lhe:
– Então aplica essa desgraça!!!
Ele aplicou. A bicha doía pacarái parecia que até o dedão do pé o grande artelho, batia na ponta do sapato como se quisesse se expandir fugindo da dor… O Jarbas não tinha sido vacinado e, como não podia deixar de ser, aceitou de plano a dolorosa picada.
Autorizados, cruzamos a fronteira para pegar o Elson e, naturalmente, bebermos uma Paceña. No primeiro Bar pedi em voz alta:
– Por favor, uma Paceña bem gelada!!!
O Bar-man respondeu em português:
– Só tem Brahma!!!
Fomos ao segundo, ao terceiro e ao quarto:
– Só tem Brahma!!!
Mais uma vez, aborrecido, descontente, insatisfeito e puto da vida, disse-lhe:
– Traz essa desgraça!
Além da dor, a Brahma. Ninguém merece…
(*) Emilson Pires de Souza
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Cáceres
18/02/2015. Um abração aos compadres “Pídio Véi”
5 respostas
Verdade verdadeira, boas lembranças após tudo isso damos boas risadas até hoje ao lembrar desse episódio. Parabéns Micim
Emilson. Pra vc ver. A brahma está entre umas das melhores no momento. Tem aparecido cervejas que equiparam a água do “POTE”. KKK
Essa história é verdadeira. Em nossas conversas de irmãos, sempre lembramos desse episódio e damos boas risadas..
É prá cabar o pequi de Goiás, kkkk
Muito bom esse texto de humor. Isso sim são momentos agradáveis dos nossos historiadores e contistas cacerenses que não minte naaada…kkkkkk.