Memórias e Histórias

Elias Neto, o cacerense jornalista, âncora de TV destaque no cenário mato-grossense

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Elias Neto, âncora do telejornalismo da TV Centro América – Foto: TV Centro América


Antonio Costa, EXCLUSIVO ao Zakinews

O espaço da semana no site zakinews é ocupado por um jornalista cacerense, tido como um dos mais antigos âncoras de TV em Mato Grosso. São 27 anos em que o profissional que morou por um bom tempo na casa dos seus saudosos pais na Rua Tiradentes, em Cáceres, aparece nas câmeras da TV Centro América, na apresentação do noticiário principal da emissora, TVCA 2ª edição. Em outras funções, ele completa outros 10 anos, perfazendo 37 de emissora, quase quatro décadas.

Elias Neto atende a reportagem para uma conversa clara e sincera para dizer da sua paixão pelo rádio, que foi onde tudo começou. De lá, ele foi parar na televisão, onde está até os dias atuais.

Após longos anos atuando no jornalismo, ele já tem data para deixar a bancada no horário principal da emissora. Será no final de janeiro de 2022, após cobrir férias da colega Luzimar Colares. Elias Neto aceitou o plano de demissão voluntária apresentado pela TV Centro América.


Homenageado da semana: o cacerense Elias Neto – Foto: TVCA / Web

JOSÉ ELIAS ANTUNES NETO
Conhecido por ELIAS NETO

Data Nascimento: 11 de agosto de 1959
Natural: Cáceres/MT
Pai: José Elias Antunes Filho
Mãe: Leonor Duarte Antunes
Irmãos: Maria Ladice, Marilza, Elenir, Ivonete, José Elias, Elizabete, Maria Hildanete e Regiane Lucleicy.
Esposa: Solange Fátima
Filhos: André Elias Cruz Antunes (psicólogo), Mateus Elias Cruz Antunes (estudante de engenharia civil e poeta) e Tiago Elias Cruz Antunes (estudante de medicina)
Graduação: Comunicação Social com habilitação em jornalismo; Pós-graduado em Didática do Ensino Superior e mestrando em Estudos de Cultura Contemporânea pela Universidade Federal de Mato Grosso

O homenageado conta que nasceu de parto normal, com o auxílio de parteira, na mesma casa que ainda é dos seus pais, na Rua Tiradentes, centro de Cáceres. Teve uma infância humilde, aprendeu a brincar com as coisas que estavam ao seu alcance, como criar uma boiada feita carinhosamente com as mangas verdes que caíam da árvore com o vento. Bastavam seis palitinhos para criar as quatro patas, o rabinho, o pescoço e frutas para completar a cabeça e o corpo do animal. E, assim, a diversão era garantida.

Elias Neto é observado pelo pai na marcenaria da família – Foto: acervo pessoal

A infância

O trabalho fez parte da sua vida desde a infância. Ainda criança, aprendeu a cuidar dos animais no quintal, galinhas e porcos, e a regar a horta. Mas também participava das brincadeiras de menino, como jogar bolita, finca-finca, pega-pega e queimada sob o sol forte de Cáceres.

Aos nove anos de idade, começou a trabalhar na marcenaria com o pai. Antes de ser jornalista, foi marceneiro, atividade que exerce até hoje como terapia.

Em 1967, o senhor José Elias (pai) sofreu um grave acidente, foi vítima de uma bala perdida e ficou impossibilitado de trabalhar por quase um ano, quando o único filho homem passou a ajudá-lo nas tarefas da oficina, de onde saiu aos 19 anos de idade para trabalhar no rádio.

Elias Neto revela que conheceu o banco da escola aos seis anos de idade no Grupo Escolar Esperidião Marques. Estudava um período, cumpria com as obrigações de casa em outro período e buscava encontrar tempo para atividades de lazer quando o cansaço não tomava conta.

Em 1966, Primeira comunhão do menino Neto – Foto: álbum de família


Na colheita do milho, costumava ir com a família, em carro de boi, a pé ou de bicicleta, para a localidade rural do Junco, que hoje é bairro, e lá, faziam pamonha no sítio do seu Justino e da professora Izabel, onde também funcionou a primeira escola do Junco.

Ainda na pré-adolescência, ia ao sítio do seu Ramires e dona Coca, pais do amigo Álvaro, na localidade de Varzearia, andar a cavalo, mexer com gado, jogar bola e conversar com os mais velhos sob a luz do luar.


1979. O Alunmo José Elias Antunes Neto é orador da turma de Técnica em Contabilidade da Escola Raimundo Cândido dos Reis. – Foto: álbum de família

Adolescência

Na adolescência, passou a frequentar cinemas, cine Copacabana, São Luiz e Peduti. Recorda que foi companheiro do pai nas pescarias de subsistência de todas as sextas-feiras no Rio Paraguai e nas baías Comprida, do Periquito e outras, sempre à noite, pois era o tempo que tinham e porque gostavam de pegar peixes lisos como pintado, bagres e jiripocas.  

Elias conta ter feito o antigo ginásio no Colégio Estadual Onze de Março, o antigo CEOM, e técnico em contabilidade na Escola Técnica de Comércio Raimundo Cândido dos Reis.

Na foto acima, o jovem Neto como ator – Foto: acervo pessoal 

Grupo de Jovens

Participou de grupos jovens da Igreja Católica do Bairro São Miguel e da fundação do primeiro grupo de teatro de Cáceres, o Jucaca – Juventude Católica Cacerense. Uma das peças encenadas pelo grupo foi o baralho da sorte que ficou em cartaz no palco do Cine Copacabana com grande sucesso.

Aos 16 anos, conheceu o Karatê, o caminho das mãos vazias, a convite do amigo Sílvio Amorim, cujos treinos eram realizados no Cube União Operária Cacerense, com aulas ministradas por Luiz Miguel, faixa verde, aluno de Lins, um sargento do Exército que era faixa preta e passou por Cáceres deixando vários seguidores da arte marcial, esporte que ele pratica até hoje,  sendo faixa preta terceiro Dan, o que significa três graus acima da preta.

Elias Neto, aos 16 anos, praticava o Karatê – Foto: acervo pessoal

Hoje, aos 62 anos, ainda pratica e desenvolve com maestria um dos movimentos mais difíceis do esporte – Foto: acervo pessoal

Cáceres de antigamente

O entrevistado da semana diz não lembrar de muita coisa da Cáceres de antigamente. “Não me lembro qual era o número de habitantes da cidade na minha adolescência e juventude. Sei que era uma cidade pequenina e com muito calor humano, com uma ou duas ruas asfaltadas, as outras na região central já eram calçadas com paralelepípedos que também chamávamos de bloquetes, hoje um símbolo histórico da cidade”, diz.

“A nossa rotina – prossegue – era trabalhar, estudar, missa nos fins de semana e cinema. Lotávamos sempre a praça Barão do Rio Branco depois da missa na catedral enquanto esperávamos pelo horário do cinema. Ali, fazíamos amizade, rolavam as paqueras e namoros, muitos casamentos começaram na Barão do Rio Branco ou na Duque de Caxias também conhecida por pracinha”, relembra Elias.

Elias Neto, na adolescência, integrou o grupo de escoteiro-mirim. Ao lado, está o ex-vereador, Wilson Bosco Palhinha de Oliveira, sob o comando de Sebastião de Paula – Foto: acervo de Beth Dutra

Família referência

Sobre a relação com sua família, Elias diz que sempre foi tranquila. “Tínhamos uma convivência de respeito e cumplicidade entre pais e filhos. Sempre tive excelente relacionamento com minhas irmãs, sendo meu pai a grande referência de homem e a minha mãe um exemplo de mulher que sabia comandar a casa, sempre presente nas principais decisões da família. Dona Leonor era minha amiga e confidente até os últimos dias de sua vida em 2017 quando foi traída por um AVC e partiu para a vida eterna”.


O início na Difusora de Cáceres

Elias Neto recorda ter iniciado na carreira de comunicador em 1979, na rádio Difusora de Cáceres, aos 19 anos de idade. “Era o meu sonho desde criança ser um profissional do rádio para atuar como noticiarista. Quando ainda era construído o prédio da Difusora, fui pedir emprego ao saudoso Ivo Vignardi, mas no primeiro momento ele disse que voltasse depois da inauguração para, nas palavras dele, ver onde poderia me aproveitar". O jornalista revela que sentiu medo de ser colocado numa função que não fosse o seu grande sonho e então pensou "não voltarei, ele ainda vai me ver falando em algum microfone na cidade". Foi o que aconteceu, numa promoção pelas crianças no coreto da Barão do Rio Branco, evento transmitido pela rádio, Ivo o viu falando no serviço de alto falante e o convidou para trabalhar na rádio. E, assim, começou sua carreira de comunicador. Elias fez um teste para locutor, ficou dois meses treinando e passou a trabalhar das duas às cinco da manhã. Meses depois, já se encontrava em horários considerados "nobres" do rádio.

1981. Elias Neto, à épodca Jota Jr.  entrevista o então governador Frederico Campos  – Foto: acervo pessoal

O gosto pelo rádio começou com os pais

Elias Neto diz que aprendeu a gostar do rádio com seus pais, que costumavam ouvir a programação de todas as noites das grandes emissoras: rádios Globo, Tupi, Guaíba, Gaúcha, Brasil Central de Goiânia, entre outras. “Foi sentado ao lado deles sob a luz da lamparina ou lampião que decidi que, um dia, trabalharia no rádio. Entretanto, aos 13 anos de idade, conheci a televisão, quando chegou a TV Centro América em Cáceres e mudei meu pensamento, passei a querer trabalhar em telejornais e fiz do rádio um trampolim para chegar à televisão, mas continuei apaixonado pelo rádio onde trabalhei por 13 anos e por um período de oito anos concomitantemente, rádio e TV. Deixei o rádio quando entrei na faculdade”.

A mudança para Cuiabá

Sonhando com a televisão, partiu para Cuiabá nas férias de dezembro de 1981, à procura de emprego nas emissoras de rádio. Ficou na casa de uma das suas irmãs e saía todas as manhãs batendo de porta em porta para pedir emprego. Até que um dia o então deputado, Roberto França, parou na porta da casa onde o jovem se encontrava quando foi apresentado pelo cunhado, o saudoso Alan Kardec, ao parlamentar e radialista, dono da equipe 1.300 da rádio Cultura. Alan disse ao deputado que o Elias estava procurando emprego em rádio e o deputado, depois grande amigo, estava ao lado do dono da rádio Cultura, Fauzer Antônio dos Santos, a quem foi apresentado. Era um sábado, Fauzer pediu para o jovem comparecer na rádio na segunda para um teste. Começa então a carreira na capital.


1982. Elias Neto,à época  Jota Jr. na Rádio Cultura 


“Trabalhei um ano e meio na Cultura, depois fui chamado para a antiga Rádio Vila Real, saindo em 1984 para compor a equipe de jornalismo da Brasil Oeste, canal 8, onde participei do lançamento do telejornal Mato Grosso em Manchete, trabalhei por cinco meses e em dezembro de 1984 fui contratado pela TV Centro América, levado pelo então editor-chefe, Lucio Sorge, e contratado pelo atual presidente do grupo Zahran, Antônio Carlos Moreira Turqueto, o Caio", conta.

“Na Centro América, sou até o momento o âncora com mais tempo no mesmo telejornal, 27 anos no MT2, sete anos no MT1 entre idas e vindas, um ano no projeto Cuiabá 300 Anos, um ano e meio em home office em virtude da pandemia”.

Elias Neto afirma convicto que teve inúmeras passagens marcantes na televisão e que não saberia citar uma, já que teve a sorte de viver intensamente todos os momentos da sua vida profissional.

Não considera que tenha tido decepções, e prossegue “tive momentos em que nem tudo era como eu sonhei ou sonhava. Mas aprendi a assimilar os golpes da vida assim como um lutador que sobe no ringue para enfrentar um adversário em 15 assaltos. Não vivi num ringue, mas a vida é um campo de luta”.


Lançamento do livro de sua autoria. Do Rádio ao Telejornalismo – A trajetória de um aprendiz. Ao lado das suas irmãs na TV Centro América – Foto: Acervo pessoal

Sonhos

“Sonho não deixar morrer meus conhecimentos comigo. Quero trabalhar, continuar trabalhando gente, continuar ensinando a arte de falar em público e compartilhar com os outros todos os ensinamentos que recebi de inúmeros professores e professoras em toda a minha caminhada, que acredito, recomeça a cada dia. Ainda não me sinto realizado, creio que tenho muito a oferecer como profissional e cidadão”.

Elias é autor do livro “Do Rádio ao Telejornalismo – A trajetória de um aprendiz”. Lançado em 2008, traz relatos vivenciados por ele e por colegas de profissão desde 1979 até dois mil e oito.

Na colação de grau, Elias Neto assina o livro Ata do curso de Jornalismo – Foto: acervo pessoal

Jota Júnior

“O nome artístico de Jota Júnior nasceu porque eu não acreditava que o meu nome de batismo seria legal para o rádio. A letra J era uma das iniciais mais usadas pelos comunicadores. Os colegas queriam saber qual o nome que o mais novo contratado deveria adotar. O calouro não sabia nem por onde começar, até que um dia um colega anunciou a estreia do novo companheiro, às duas horas da manhã.

– Agora você fica com José Elias Antunes Neto e o programa da madrugada, Brasil Caboclo.

Achei muito longo e nem um pouquinho artístico.

Até que um colega encontrou uma solução, mas primeiro, fez a seguinte pergunta: qual o seu nome? – Pela “milésima vez”, disse que não tinha ideia.  Diante da resposta, ele concluiu:

– Se você é neto e o seu pai é filho, nada mais lógico. Pronto, está resolvido: adote o nome do seu pai; filho é júnior, portanto J. Júnior. – O nome que sobreviveu de 1979 a 1983”.

J. Júnior trabalhou nas rádios Difusora de Cáceres, Cultura de Cuiabá, alguns meses na Vila Real e TV Brasil Oeste, canal 8, em 1982.

“Em setembro de 1983, lançamos o Jornal da Manhã da Vila Real e, numa conversa bastante franca com a participação de todos da redação, sob o comando o professor Pedro Pinto, chegamos à conclusão que Elias Neto seria um bom nome.” (Esse trecho foi retirado do livro “Do rádio ao telejornalismo, a trajetória de um aprendiz”).

Elias Neto, o ilustre filho de Cáceres, crava 42 anos de trabalho no jornalismo de Mato Grosso. Exemplo de dedicação, fé, esperança e muita persistência. Realizar sonhos é possível. Ele prova isso para todos que sonham alçar voos mais altos.

1977. Na foto acima, o jovem como ator. Foto 3. 1966.   Primeira comunnhão de Elias Neto e sua irmã Elizabete

1982. Elias Neto dança nos 15 anos da irmã Regiany.

 

3 respostas

  1. Parabens Elias por essa merecida homenagem. Muita honra para nos cacerenses termos voce na bancada da TV Centro America. Voce merece! Um profissional competente, integro, generoso, simpatico e carismatico. Continua sempre na telinha adentrando nossos lares porque a sua presenca e sua voz maravilhosa do sempre bem vindas. Parabens a Zakinews por essa honrosa homenagem a uma cacerense vencedor e um ser humano impar

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