Crônicas

Estórias que vi e ouvi: 60 anos da família Pires em Cáceres

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O relógio marcava 18 h, o dia foi 1º de abril de 1965, uma quinta feira, o local foi a chácara de Alcides Vidal Salomé, em frente ao Estande de Tiro do 2º B. Fron, na antiga BR, sem asfalto. Chegamos em Cáceres, estávamos em Cáceres, viemos para ficar. A viagem demorou 20 longos dias. Saímos de Custódia, no sertão de Pernambuco, no dia 10 de março, em veículo próprio e cruzamos o Brasil de Leste a Oeste, uma verdadeira saga, a Saga dos Pires.

Aqui já morava a nossa prima, considerada uma irmã mais velha, Ivone (para nós Voninha), casada com Alcides Vidal Salomé, que era a referência parental que tínhamos fora do Vale do  Moxotó e do Vale do Pajeú.

Cáceres era uma cidade importante em todos os sentidos, na educação, na cultura, no econômico e no social. Para refrescar nossa lembrança, em frente a Catedral, no coreto da Praça Barão do Rio Branco, após a missa de Domingo, a Banda do 2º B. Fron, sob a regência do Cap. Lenírio e, depois do Ten. Valdemar, dava um show musical que empolgava a todos; após a retreta, o programa da juventude era o footing (passeio no calçadão de mãos dadas ou não), antes da projeção do filme, que era anunciado pelo autofalante do Copacabana, por Dito, o corumbaense responsável pela projeção, que nas tardes chuvosas, tocava o “chove chuva” de Jorge Ben; a luz elétrica acabava a meia noite. O abastecimento da cidade se dava pela navegação Corumbá-Cáceres, o movimento era frenético… em 1968, Cáceres foi o maior produtor de arroz do Brasil (o município), não havia armazéns suficientes para tanta produção, então havia empilhamento de sacas de arroz em frente ao Cemitério São João Batista; na Praça Barão, no Cais e outros. Dava gosto de se ver. O Prefeito Ernani Martins, dava início ao calçamento da Praça e das ruas contíguas com blocos feitos de cimento, fabricado em Corumbá, trazido em barcaças que aumentava sobremaneira o fluxo das grandes embarcações. A cidade ainda pequena, recebe um fluxo populacional extraordinário em deslocamento aos novos núcleos, Rio Branco, Salto do Céu, Mirassol d’Oeste, São José dos Quatro Marcos, Jauru, outros mais. Grandes casas comerciais locais abasteciam essa população chegante. Em 1965 houve a primeira Exposição Agropecuária de Cáceres, que foi um sucesso, traduzindo a pujança da pecuária pantaneira. Havia dois cinemas, o “Palácio” e o “Copacabana”, em seguida vieram mais dois, o “São Luiz” e o “Peduti”; Cáceres contava com quatro clubes sociais, com a visível estratificação social local, o Humaitá era da elite, o Mato Grosso da classe média, a UBSSC era dos militares do 2º B. Fron (Subtenentes e Sargentos) e, a União Operária da classe trabalhadora; Dr. José Wilson de Campos, criava o Jornal diário “Correio Cacerense”; o “Onze de Março” preparava os rapazes para o curso  superior e para a vida e o Colégio das Irmãs, Colégio Imaculada Conceição, preparava as lindas moças cacerenses para o amanhã; do Instituto Santa Maria, nasce a maior fanfarra, sob a batuta do Frei Mathaus, segundo Elias, garboso, é assim que se escreve; A ponte “Mal. Rondon” já estava em funcionamento e, Cáceres, como no hino do Professor  Natalino Ferreira Mendes, respondia “ad sum”, com a expansão da fronteira agrícola, consequência do programa de governo federal e estadual, quando era governador o Sr. Pedro Pedrssian e, a CODEMAT estava sob os cuidados de José Benedito Canellas, momento de rica história, em que foi fincada, ao pé da ponte, uma enxada estilizada, muito grande, na qual estava escrito “APERTO AS MÃOS CALOSAS DOS COLONOS COMO SE APERTASSE CONTRA O PEITO O CORAÇÃO DA PRÓPRIA TERRA” com a assinatura de Pedro Pedrossian. Bem que podia ser recolocada, porque é, indubitavelmente, o monumento que testemunha a ocupação e o desenvolvimento de todo o Oeste de Mato Grosso.

As instituições sociais, como o Rotary, o Lyons, a Maçonaria e a Igreja, uniram-se, num esforço político suprapartidário para dotar Cáceres de energia elétrica permanente assim como da ligação asfáltica com Cuiabá e, também para trazer uma agência da CEF e deu certo. Demorou, mas deu certo. O Projeto Rondon, instala em Cáceres, um Campus Avançado da FURG, tendo como seu primeiro Diretor, o meu cunhado Prof. Ms. Péricles Antônio Gonçalves, de Rio Grande RS. O Campus Avançado de Cáceres foi a semente do que é hoje a nossa UNEMAT, que teve como um dos seis Reitores o amigo, de grata memória, Arno Rieder, o segundo diretor do Campus. Outros componentes, depois de formados fixaram residência em Cáceres.

Adaptados e integrados socialmente, estudamos, trabalhamos, produzimos e constituímos  família. Coloco aqui, uma expressão do meu amigo e irmão, Pedro Paulo Pinto de Arruda, o Pedrinho, “somos todos cacerenses, a diferença é que uns chegaram primeiro”. Somos cacerenses.

No dia 27/10/1991, um dia após o falecimento do nosso timoneiro Elpídio Pires, nós os irmãos e alguns amigos, fundamos o Grupo “Pídio Véi”, em homenagem a ele. Está vivo até hoje.

Viva!

Emilson Pires
Membro  do Instituto Histórico e Geográfico de  Cáceres

36 respostas

  1. A crônica “Estórias que vi e ouvi: 60 anos da família Pires em Cáceres”, de autoria de Emislon Pires — ou Missim, para os mais íntimos — é uma leitura extraordinária que nos transporta diretamente para os anos dourados da nossa querida princesinha do Paraguai. Ao mergulharmos nas memórias da família Pires, sentimos como se estivéssemos caminhando pelas ruas de Cáceres, revivendo momentos marcantes de sua história.

    A escrita de Missim é envolvente, rica em detalhes e carregada de afetividade, fazendo com que o leitor se sinta parte das cenas, das conversas, dos encontros. É um verdadeiro presente para quem ama Cáceres e valoriza sua gente e sua memória. Recomendo com entusiasmo essa leitura a todos que desejam conhecer ou relembrar as tradições que moldaram a alma cacerense ao longo das décadas.

  2. Micim, meu querido amigo e irmão, parabéns a todos da família Pires. Nós nos conhecemos a mais de 5 décadas, congratulo-me com o vosso feito. A vida continua.

  3. Que texto maravilhoso pra ler e relembrar os anos passados, que pra muitos é pra mim não foram fáceis mas tive momentos bons também, da praça barão, da catedral linda, da ponte branca da família Pires e Garcia que me acolheram como da família ❤️ Eu morando fora sinto muita saudade de caceres, de vocês o coração chora. Obrigada Micim pelo texto 😍

  4. Micim, muito bom. Vamos esperar ansiosos a continuidade desses maravilhosos textos.
    A Família Pires agradece.
    Obrigado meu amado Irmão.

  5. Como é bom valorizar o que é parte da História da sua vida. Vc presenteia todos nós com esta obra. Felicidades meu querido e valoroso Ir Míssim.

  6. E sempre uma dádiva poder ter a chance de conhecer um pouco mais sobre nossa grande Cáceres e o amor e carinho que há no coração de quem aqui constrói suas vidas e suas histórias

  7. Baluartes de uma boa parte da história de Cáceres! Que bom q Micim se dedica a registrá-la. É memória viva! Continue a nos brindar com lembranças q podem avivar os sentimentos de estarmos sempre “Presentes” na condução dos destinos da cidade!!!

  8. Parabéns por este texto, me levou ao passado com deliciosas lembranças…nossa terra tem belas histórias…filhos abençoados.
    Sou cacerense com orgulho.
    Somos…

  9. Que Bacana meu AMIGO Emilson, PARABÉNS, sabemos que Cáceres-MT cresceu com as chegadas de várias pessoas de outros Estados e cidades de MT, pessoas que acreditaram e aqui formaram famílias e enrraizaram, como a nossa CACERES tem história e como é bom ficar sabendo detalhes de tudo que foi importante para o desenvolvimento da cidade, PARABÉNS mais uma vez ZAKINEWS.

  10. Parabéns família Pires, grandes amigos, linda história.meus pais e irmãos chegaram na mesma época….nos chegamos em 1971, realmente a luz apagava meia noite….mas logo chegou a energia elétrica….morar em Cáceres é muito bom…….

  11. Excelente história de vida. Parabéns pernambucanos de Custódia. Eu sou de Olinda. Quando criança vi muitas vezes os ônibus de Custódia que saia e chegava na rodoviária de Recife. Cheios de poeira e carregados de balaios. Somos abençoados por Deus. Um abraço .

  12. Excelente história de vida. Parabéns pernambucanos de Custódia. Eu sou de Olinda. Quando criança vi muitas vezes os ônibus de Custódia que saia e chegava na rodoviária de Recife. Cheios de poeira e carregados de balaios. Como é bom encontrar nosso conterrâneos paus rodados. Somos abençoados por Deus. Um abraço .

  13. Parabens cáceres. De gente que Acreditou no Futuro dessa cidade. Famílias raízes
    E muitos que veio e ajudou a construir essa bela cidade. Conheci caceres 1972
    E so em 1974 chegou a tão sonhada Energia elétrica . Era única cidade da nossa região que tinha banco do Brasil. E muitas outras sedes.
    Parabens a todos que Fez de caceres a cidade mais importante da nossa região.

  14. Parabéns amigo Emilson e toda Família Pires, sempre participaram ativamente para melhoria e crescimento de Cáceres, grande abraço.

  15. Parabéns a família Pires, tive o prazer de participar de participar inesquecíveis pescaria e acampamentos nas praias do Rio Paraguai com a grupo Pidio Véio. Saudades.

  16. Meu grande respeito pela família pires,
    Parabenizo pela Estória aqui narrada, Cáceres e linda, Istoricamente falando ! ..
    Eu cheguei pra essa Cidade em 1962 tinha dezoito anos é Aqui estou até hoje !!!

  17. Família Pires, parabéns, memórias que com certeza continuará fazendo parte da história de nosso município de Caceres👏👏👏👏👏

  18. Parabéns pelo belíssimo texto. Me fez voltar ao passado como se as imagens daquele tempo estivessem diante dos meus olhos. Sou de 1959, participei de todas essas histórias. Cinemas, clubes, IESC, Instituto de Ensino Superior de Cáceres e depois UNEMAT. Estudei no Ceom, em frente a minha Casa?, e o Rio Paraguai era parte da minha casa. Parabéns.

  19. Gostei de ler um pouco da verdadeira história sobre a chegada dos colonos de todo o Brasil pra desbravar a fronteira oeste. Infelizmente o pluripartidarismo politico estragou tudo. Parabéns pela bela matéria.

  20. Nossa mãe do céu kkk como não escondo a idade, nasci em 1965, no auge do progresso da agropecuária pantaneira.
    Família Pires, muito especial…composta de pessoas que tenho um enorme apreço.

  21. Riquíssima história, é possível refletir um tema
    Cáceres sempre foi palco de ambulância econômica, temos que resgatar esse norte.

  22. Me considero parte dessa grande familia, parabéns aos Pires, cáceres agradece a presença e contribuição ao seu crescimento. Viva a família Pires!

  23. Eu disse que os textos seriam excelentes. Eis a prova. Se o primeiro foi assim, ficaremos ansiosos aguardando os demais. Parabéns Emilson. Parabéns ZAKINEWS. Estreitado abraço!!!

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